segunda-feira, 13 de julho de 2009

Rádio Livre e outras Idéias

ao ar ilegalmente em 1933. E manteve esta condição por três anos, até sofrer
intervenção policial e legalizar-se, em 1936, quando assumiu a nomenclatura
atual . Por isso, o fenômeno não é tão recente quanto alguns podem pensar.
Porém, o quadro se intensifica durante a ditadura militar. Transmissões clandestinas
eram realizadas em unidades móveis, utilizando baterias de automóvel.
O objetivo era dificultar a localização, driblando o for te controle e a censura.
Uma das primeiras experiências da qual se tem registro na época foi a da Rádio
Paranóica, em Vitória do Espírito Santo, em outubro de 1970. Criada por dois
meninos, um de dezesseis e um de quinze anos, utilizava o bordão “Paranóica,
a única que não entra em cadeia com a Agência Nacional”. Como resultado,
o mais novo foi preso e acusado de subversão, embora nem soubesse direito
o que isso significava. A Paranóica foi interditada, mas voltou a funcionar em
1983 e se manteve no ar até a segunda metade dos anos 90 com o nome de
Rádio Sempre Livre. Outras experiências significativas foram a Rádio Spectro,
de Sorocaba (SP), em 1976 e a Rádio Globo de Criciúma (SC), em 1978. Mas
é impor tante ressaltar que, por este período, as rádios eram inspiradas mais
por um espírito de rebeldia sem muito compromisso, sem grandes pretensões
ou causas. De um modo geral, eram jovens entusiastas que queriam apenas
praticar a ar te da radiofonia.

Na década de 1980, o fenômeno começou a ganhar mais impulso. Os primeiros
anos foram marcados pelo movimento de jovens de Sorocaba (SP), que, em
iniciativas individuais, se apropriaram das ondas livres do rádio com emissoras
de baixa potência com programações alternativas às das emissoras FM. A grande
quantidade de técnicos e estudantes de eletrônica nesta cidade, a ociosidade do
período das férias escolares, os esquemas em revistas importadas e a facilidade
em conseguir peças em qualquer loja especializada criavam um contexto propício
para este fenômeno localizado. Mas estas emissoras tocavam muita música e o
playlist não era muito diferente das rádios oficiais. Em 1981 já se tem o registro de
pelo menos 6 estações em Sorocaba: Estrôncio 90, Alfa 1, Colúmbia, Fênix, Star
e Centaurus. Durante o verão de 1982 chegaram a ser registradas 42 emissoras
clandestinas na cidade, que posteriormente seriam perseguidas e aniquiladas pela
fiscalização do extinto Departamento Nacional de Telecomunicações (DENTEL).
Em 1984, as estações já não passavam de 15. Com a repressão, o discurso que
inicialmente não tinha base ideológica passa a voltar-se contra o monopólio das
FMs. A partir de 1985, o fenômeno começa a proliferar-se ainda mais. Em São
Paulo, surgem as rádios Xilik, Vírus, Dengue, Seilá e Totó Ternura. Em 1986, surge
no Rio de Janeiro a Frívola City. Na década de 90, várias outras surgem, cada uma
com sua história e suas características: Reversão, Nova Geração, Muda e Onze

Para saber mais, ver o artigo de Antonio Adami e Carla Reis Longhi, O Rádio Com Sotaque Paulista:
Rádio DKi “A Voz do Juqueri”, disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2005/
resumos/R1927-1.pdf.

são alguns exemplos.

Também começam a aparecer com mais freqüência as com
perfil religioso, como a Free FM. Mas é neste período que começam a surgir várias
rádios de caráter comunitário, como a Rádio Sabiá do Recife (PE), Rádio Popular
Santa Amélia de Curitiba (PR), Rádio Calabar de Salvador (BA), Rádio Popular de
Heliópolis e Rádio do Povo (SP), Rocinha e Rádio Saara (RJ), Rádio Favela de Belo
Horizonte (MG), entre outras. As rádios livres são emissoras que podem ou não
ter um cunho político, podendo ser motivadas também por intenções religiosas,
pornográficas, comerciais ou simplesmente entusiásticas. Por isso, diferenciam-se
das comunitárias, cujos objetivos vão além das experiências de caráter pessoal/individual e/ou isoladas do local onde se estabelecem.

Há ainda outras experiências de caráter popular que, em alguns casos, acabam
resultando em emissoras radiofônicas. O uso de cornetas ou alto-falantes fixados
em postes, popularmente conhecidos em alguns lugares como “rádio-poste”, é

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