segunda-feira, 13 de julho de 2009

em construção, mas falta pouco pra terminar... rsrrsrs

Montando uma Rádio

• Mesa de som: também conhecido como “mixer”, permite controlar, separar
ou misturar todos os sons gerados pelos aparelhos citados anteriormente. É a
mesa que possibilita aquela musica baixinha de fundo (a chamada “cortina”)
enquanto o locutor fala;
• Equalizador: é um aparelho opcional, cuja maior função é ajustar a qualidade
do som;
Gerador de estéreo: neste aparelho o som adquire característica de estéreo, o
que permite os sons em dois canais para dois ou mais alto-falantes, transmitindo
aquela sensação de distribuição espacial;
• Transmissor: transforma e transmite para a antena as ondas de rádio FM numa
freqüência determinada – é onde se define o “canal” da rádio;
• Antena: transmite as ondas que serão captadas pelos rádios FM da região
quando sintonizados na freqüência estabelecida no transmissor. A antena deve
ficar o mais próxima possível do transmissor, para não haver perda de ganho
do sinal. Para uma montagem segura, sugere-se um alicerce de no mínimo 1/4
Rafael Costa
de profundidade em relação ao tamanho da torre e pelo menos três estirantes
de sustentação a cada seis metros de altura, formando um ângulo de no mínimo
30º em relação ao eixo da torre. Se possível, instale um para-raios a dois
metros acima da antena e um metro longe do seu eixo – lembrando que este
item é muito importante para a segurança (um raio na antena pode ser fatal
não apenas para o equipamento, como também para quem estiver na rádio,
especialmente quem estiver no estúdio operando com o equipamento).
Com 4 a 5 mil reais já é possível montar uma boa rádio – um kit completo para
transmissão, com transmissor de 25W, gerador de estéreo, cabos e antena sai por
uns 2 mil reais. Uma mesa de som, 600 reais. Uma chave híbrida sai por uns 150
reais. Aí tem os microfones (pelo menos dois), um computador ou aparelho de CD
ou toca-discos, ou todos eles, de acordo com a possibilidade de investimento. Uma
comunidade com poucos recursos pode montar uma rádio também, desde que haja
boa vontade e participação popular. Pode-se organizar algum evento para angariar
fundos, ou ainda uma rifa beneficiária. Houve casos em que moradores da comunidade
doavam os aparelhos: um doou o microfone, outro o transmissor, um outro cedeu
um aparelho de som, e a rádio entrou no ar . Se houver recursos suficientes, pode-se
ainda colocar uma conexão com a Internet, que dá acesso a muito conteúdo gratuito,
um outro computador, que pode ser utilizado para gravação, ou ainda um transmissor
intermediário conhecido como enlace (“link”), possibilitando transmissões a alguns
quilômetros de distância do estúdio. Com este tipo de recurso, podem-se fazer transmissões,por exemplo, diretamente dos jogos e eventos da comunidade, como os
campeonatos de futebol de várzea ou festas da comunidade .


4 RÁDIO LIVRE E OUTRAS IDÉIAS

A idéia de emissoras alternativas e autônomas, desvinculadas dos padrões
institucionais impostos pelo controle estatal, não é recente. Embora o
termo rádio livre esteja mais associado às emissoras que surgem nos
anos de 1970, o fenômeno existe desde o início da radiodifusão. Mas foi na
década de 1970, associado a movimentos liber tários europeus, em especial na
Itália e na França, que ganhou impulso político, proliferando-se em emissoras
locais de pouco alcance. Acredita-se que a primeira rádio de caráter livre tenha
sido uma emissora sindical que surgiu na Áustria em 1925. No Brasil, por
exemplo, a rádio DKI – A Voz do Juqueri, atual Rádio Cultura de São Paulo, foi
Para saber mais, ver o livro Trilha apaixonada e bem-humorada do que é e de como fazer rádios comunitárias na intenção de mudar o mundo, de Dioclécio Luz.
Para saber mais, ver: cartilha Rádio comunitária: como produzir conteúdo para agricultura familiar,da ABRAÇO-RS, ou as cartilhas da Rede Viva Favela, disponíveis em http://www.redevivafavela.com.br/.

Rádio Livre e outras Idéias

ao ar ilegalmente em 1933. E manteve esta condição por três anos, até sofrer
intervenção policial e legalizar-se, em 1936, quando assumiu a nomenclatura
atual . Por isso, o fenômeno não é tão recente quanto alguns podem pensar.
Porém, o quadro se intensifica durante a ditadura militar. Transmissões clandestinas
eram realizadas em unidades móveis, utilizando baterias de automóvel.
O objetivo era dificultar a localização, driblando o for te controle e a censura.
Uma das primeiras experiências da qual se tem registro na época foi a da Rádio
Paranóica, em Vitória do Espírito Santo, em outubro de 1970. Criada por dois
meninos, um de dezesseis e um de quinze anos, utilizava o bordão “Paranóica,
a única que não entra em cadeia com a Agência Nacional”. Como resultado,
o mais novo foi preso e acusado de subversão, embora nem soubesse direito
o que isso significava. A Paranóica foi interditada, mas voltou a funcionar em
1983 e se manteve no ar até a segunda metade dos anos 90 com o nome de
Rádio Sempre Livre. Outras experiências significativas foram a Rádio Spectro,
de Sorocaba (SP), em 1976 e a Rádio Globo de Criciúma (SC), em 1978. Mas
é impor tante ressaltar que, por este período, as rádios eram inspiradas mais
por um espírito de rebeldia sem muito compromisso, sem grandes pretensões
ou causas. De um modo geral, eram jovens entusiastas que queriam apenas
praticar a ar te da radiofonia.

Na década de 1980, o fenômeno começou a ganhar mais impulso. Os primeiros
anos foram marcados pelo movimento de jovens de Sorocaba (SP), que, em
iniciativas individuais, se apropriaram das ondas livres do rádio com emissoras
de baixa potência com programações alternativas às das emissoras FM. A grande
quantidade de técnicos e estudantes de eletrônica nesta cidade, a ociosidade do
período das férias escolares, os esquemas em revistas importadas e a facilidade
em conseguir peças em qualquer loja especializada criavam um contexto propício
para este fenômeno localizado. Mas estas emissoras tocavam muita música e o
playlist não era muito diferente das rádios oficiais. Em 1981 já se tem o registro de
pelo menos 6 estações em Sorocaba: Estrôncio 90, Alfa 1, Colúmbia, Fênix, Star
e Centaurus. Durante o verão de 1982 chegaram a ser registradas 42 emissoras
clandestinas na cidade, que posteriormente seriam perseguidas e aniquiladas pela
fiscalização do extinto Departamento Nacional de Telecomunicações (DENTEL).
Em 1984, as estações já não passavam de 15. Com a repressão, o discurso que
inicialmente não tinha base ideológica passa a voltar-se contra o monopólio das
FMs. A partir de 1985, o fenômeno começa a proliferar-se ainda mais. Em São
Paulo, surgem as rádios Xilik, Vírus, Dengue, Seilá e Totó Ternura. Em 1986, surge
no Rio de Janeiro a Frívola City. Na década de 90, várias outras surgem, cada uma
com sua história e suas características: Reversão, Nova Geração, Muda e Onze

Para saber mais, ver o artigo de Antonio Adami e Carla Reis Longhi, O Rádio Com Sotaque Paulista:
Rádio DKi “A Voz do Juqueri”, disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2005/
resumos/R1927-1.pdf.

são alguns exemplos.

Também começam a aparecer com mais freqüência as com
perfil religioso, como a Free FM. Mas é neste período que começam a surgir várias
rádios de caráter comunitário, como a Rádio Sabiá do Recife (PE), Rádio Popular
Santa Amélia de Curitiba (PR), Rádio Calabar de Salvador (BA), Rádio Popular de
Heliópolis e Rádio do Povo (SP), Rocinha e Rádio Saara (RJ), Rádio Favela de Belo
Horizonte (MG), entre outras. As rádios livres são emissoras que podem ou não
ter um cunho político, podendo ser motivadas também por intenções religiosas,
pornográficas, comerciais ou simplesmente entusiásticas. Por isso, diferenciam-se
das comunitárias, cujos objetivos vão além das experiências de caráter pessoal/individual e/ou isoladas do local onde se estabelecem.

Há ainda outras experiências de caráter popular que, em alguns casos, acabam
resultando em emissoras radiofônicas. O uso de cornetas ou alto-falantes fixados
em postes, popularmente conhecidos em alguns lugares como “rádio-poste”, é

Rádio Livre e outras Idéias

uma experiência de comunicação comunitária bastante difundida em função do seu
baixo custo e da fácil implementação. Normalmente são instaladas em paróquias,
mercados, praças ou feiras, enfim, em locais públicos onde haja grande concentração
ou circulação de pessoas. A maior desvantagem deste sistema está no fato
de que o ouvinte não pode “trocar” de estação, pois os alto-falantes “falam” para
todo mundo, inclusive para quem não quer ouvir.

Outra interessante experiência de comunicação participativa à distância são
os chamados cassete-fórums. Originários do Uruguai no final da década de 1970,
consistem em um sistema onde grupos trocam fitas-cassetes com debates em
torno de um tema comum definido a partir de uma mensagem distribuída por uma
coordenação central. As fitas são enviadas para esta coordenação, que analisa as
mensagens, edita com a opinião de todos os grupos e grava em uma nova fita que
é reenviada para todos. O fórum pode continuar indefinidamente, até que o assunto
seja considerado esgotado. Com a popularização da informática e da Internet, a
proposta do cassete-fórum perde um pouco da sua força inicial. Mas a idéia de
produzir discussões grupais à distância através da comunicação oral pode ser readaptada aos novos recursos tecnológicos, preservando a essência desta iniciativa
popular. É possível encontrar na Internet softwares gratuitos para conferências,
de modo a realizar experiências similares, porém em tempo real. Para tanto, é necessário que cada grupo possua pelo menos um computador com Internet banda
larga e um bom microfone, que consiga captar a voz dos participantes. Outra possibilidade é manter a estrutura original do cassete-fórum, mas utilizando a troca de arquivos de áudio, como os MP3, ao invés de fitas-cassete .
Há ainda uma experiência mais recente, ainda em fase de apropriação e desenvolvimento.Tratam-se das chamadas “rádios web”, emissoras que transmitem
sua programação através da Internet utilizando uma tecnologia chamada streaming.
Funcionam exatamente como uma rádio que opera por ondas, podendo inclusive ser
incorporadas e utilizar o equipamento já existente. A diferença é que o sinal é transmitido pela Internet, sendo conseqüentemente recebido pelo mesmo meio. Assim, as
“rádios web” não podem ser sintonizadas em um aparelho de rádio convencional. É
uma tendência a ser explorada e já é possível ouvir este tipo de emissora em alguns
modelos de celulares, por exemplo. É uma questão de tempo para esta tecnologia popularizar-se. Uma das grandes vantagens deste sistema é que não existem limitações
para quantidade de emissoras, nem regulamentação (pelo menos por enquanto) .
Para saber mais, ver a dissertação de Marisa Meliani, Rádios livres, o outro lado da voz do Brasil,
de 1995, ou o texto de Rodney Brocanelli, Rádios Livres - Breve História, disponível em: http://www.locutor.info/Biblioteca/Radios_Livres.doc, ou ainda os livros Comunicação nos movimentos populares:a participação na construção da cidadania de Cicilia Peruzzo (p. 241-258) e No ar... uma rádio comunitária de Denise Maria Cogo (p. 73-91).
Um bom tutorial para montar este tipo de emissora pode ser encontrado na página Projeto Dissonante em: http://bill.dissonante.org/site/index.php?arquivo=comofazer.

5 RÁDIOS COMUNITÁRIAS NO BRASIL:O ALVOROÇO DA TRAJETÓRIA
As rádios livres dos anos de 1980 apresentavam um caráter mais experimental.
No decorrer daquela década, o movimento popular vai se apropriando da comunicação
social, e constitui a Frente Nacional pela Democracia na Comunicação,
muito atuante durante o processo da Assembléia Constituinte (1986-1987). Esta
pressão teve como fruto o texto da Constituição de 1988. O Capítulo V nos Artigos 220,221, 222 e 223 assegura este direito. No Art. 223 está escrito: “deve ser observado o princípio da complementaridade dos sistemas privado, público e estatal”. Para simplificar,significa que o povo brasileiro tem o direito de ter e gerir um sistema público não-estatal de informação, comunicação e cultura. Como, de lá para cá, os governos jamais respeitaram este direito, foi e continua sendo necessário conquistá-lo.

Antes da promulgação da Lei do Serviço de Radiodifusão Comunitária em 1998 (conhecida como Lei 9612/98), uma parte dos comunicadores populares brasileiros já entendia a comunicação social como fundamental para a radicalização democrática e para os movimentos sociais. O grau de organização necessária para fundar uma entidade nacional é atingido no ano de 1996. É quando nasce a idéia de

Rádio Livre e outras Idéias

COMUNITÁRIAS NO BRASIL RÁDIOS COMUNITÁRIAS NO BRASIL 23
representação legal e social das emissoras comunitárias de rádio. Recebe o nome de
Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (ABRAÇO) e tenta pressionar o
primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-1998) a assinar uma lei que
legalize as emissoras populares, até então consideradas ilegais.
Uma década já havia se passado desde que se formou a base constitucional propondo
um sistema público não-estatal de comunicação social. Na ponta desta luta,
com perfil diferente da Federação Nacional de Jornalistas (FENAJ) e da Executiva Nacional de Estudantes de Comunicação Social (ENECOS), começam a surgir inúmeras
iniciativas populares. Frente à pressão, o então Ministro das Comunicações do primeiro governo de FHC, Sérgio Motta, assina no ano de 1998 a Lei 9612/98. Esta lei, na teoria, regula um modelo de rádios comunitárias de baixa potência. Mas, na prática, os problemas desta lei e suas conseqüências são tema de constantes debates .
O fato é que a partir da base legal, mesmo que pouco regulada, o que era quase
fora de controle se torna totalmente incontrolável, tanto para o Estado quanto para
as forças sociais organizadas em torno da democratização da comunicação social
no Brasil. Desde que a lei foi promulgada, os governos têm fechado, em média, uma
rádio por dia. Infelizmente, a formação de um suposto “movimento” ainda sofre com
a escassez de comunicadores conscientes do seu papel social, ou seja, gente capaz,
dedicada, atuante e responsável dentro deste cenário. Na verdade, a montagem do
sistema público não-estatal está se desenvolvendo com muita dificuldade a partir dos
esforços do movimento popular dedicado a esta causa10.
5.1 Mas afinal, quem faz o movimento
das rádios comunitárias?
Diferente de outros setores dos movimentos sociais, a balbúrdia entre identidades
no movimento das rádios comunitárias no Brasil afeta diretamente a construção
da organização destes comunicadores populares. Nas rádios comunitárias, cabem
todos, incluindo diferentes motivações e projetos, independente de ideologias. A
diversidade sempre é positiva, mas a falta de objetivo estratégico gera a um sem
número de posições confusas e conflitantes, dificultando a articulação.
Já são mais de 3.300 rádios comunitárias com outorga definitiva e outras 15.000
que estão no ar brigando pela legalização. Neste total, incluímos emissoras com outor-
Para saber mais, ver também o texto de Márcia Detoni, Desenvolvimento da radiodifusão comunitária no Brasil, localizado no blog da professora de comunicação da PUC/RS Beatriz Dornelles em:
http://biadornelles.blogspot.com/2005/09/desenvolvimento-da-radiodifuso.html e http://biadornelles.
blogspot.com/2005/09/desenvolvimento-da-radiodifuso_22.html.
10 Para saber mais sobre a legislação para rádios comunitárias, ver http://www.mc.gov.br/radiodifusao/legislacao/sonora/radcom.ga, com pedido de outorga, as lacradas e apreendidas, bem como aquelas que estão funcionando sem nenhuma garantia legal. As Rádios Comunitárias autênticas, “com C maiúsculo”, tanto no projeto quanto na motivação, são minoria dentro do contexto geral.
Em média, uma emissora comunitária movimenta de 20 a 50 pessoas diretamente
envolvidas. Esta base é composta, em geral, por rádio-amantes. Assim, o problema
termina sendo conceitual. Boa parte dos animadores de rádios têm compromissos e
participação social em diversos níveis. Mas até chegar a ser uma participação consciente da importância social deste tipo de rádio, o que caracteriza as comunitárias “com C maiúsculo”, existe um abismo. Enfim, falta responsabilidade para com a proposta essencialmente democrática destes veículos. Na estimativa mais modesta, o conjunto das rádios comunitárias movimenta mais de 300.000 ativistas-comunicadores diretos. Estão na ponta da luta pela democracia na comunicação brasileira. Mas,muitas vezes, nem sabem onde se posicionam, e terminam ganhando maior consciência quando ocorre alguma repressão por parte da ANATEL / Polícia Federal11.
5.2 Tipos de emissoras comunitárias e a má fé dos oportunistas de plantão
Em meio às diferenças que caracterizam a riqueza das comunitárias, é possível
identificar alguns tipos de emissoras. Algumas rádios nem sempre estão adequadas
à essência das idéias que devem orientar a conduta deste tipo de veículo
11 Para saber mais, ver o artigo de Adilson Vaz Cabral Filho e Bruno Lima Rocha, O empoderamento popular por meio das rádios comunitárias: uma análise crítica em: http://www.estrategiaeanalise.com.br/ler02.php?idsecao=922050d4e7d85ffb0ce2211f87d218b7&&idtitulo=6cdace326048c1a0a88784e
31c10100c.

Rádio Livre e outras Idéias

de comunicação. Por isso, podem ser chamadas de pseudocomunitárias (falsas
comunitárias). Grosso modo, as emissoras que se dizem comunitárias podem ser
classificadas em quatro tipos mais comuns:

Rádios Comunitárias: mesmo sem outorga ou não operando conforme o
projeto original, têm a intenção de funcionamento democrático, abrindo suas
portas e estimulando a participação da comunidade onde estão inseridas.
Portanto, são as comunitárias “com C maiúsculo”;

Rádios Livres: como já visto, são emissoras que não estão necessariamente em busca do amparo legal nem preocupadas em recompor o tecido social em torno da sua prática. Mas têm importante papel ao confrontar o coronelismo eletrônico, ou seja, a posse e utilização política das estações de rádio e televisão por grupos e familiares de elites normalmente políticas e/ou religiosas;
Assim como as comunitárias “com C maiúsculo” sem outorga, são comumente
rotuladas como rádios “piratas”;

• Picaretárias: é uma expressão empregada para a emissora “comunitária” de intenção comercial e/ou de propriedade de políticos profissionais. Estas emissoras usam brechas da lei para brigar pela outorga de comunitária, mas adotam práticas mais comuns às comerciais, sendo utilizadas em benefício e/ou promoção do(s) seu(s) proprietário(s). São comunitárias de fachada,
normalmente absorvidas pela prática do coronelismo eletrônico;

Neopentecostais: são emissoras de pequenas igrejas neopentecostais, evangélicas e/ou católicas, congregações de menor poder aquisitivo, ou mesmo corporações religiosas sem um grande veículo de comunicação à sua disposição.
Assim como as “picaretárias”, também são compostas por oportunistas
de plantão que conseguem outorga de comunitária e utilizam o veículo para fins
específicos ou particulares. Mesmo em menor escala que as “picaretárias”,
não deixam de incorporar certas práticas comuns ao coronelismo eletrônico;
Entre as práticas que são mais comuns em rádios comerciais, e que são normalmente
incorporadas pelas “pseudocomunitárias”, podemos citar:

• venda de espaço na emissora;

• vínculo do tipo “chapa branca”, com relações de subordinação ou parceria
com os poderes políticos locais;

• apoio cultural na forma de jabá, veiculando uma grande quantidade de “abraços”
e “parabenizações” para comerciantes da região. Muitas vezes, este jabá
nem entra no caixa da rádio, indo direto para o bolso de quem captou o apoio;

• É comum vermos comunicadores de emissoras com outorga de comunitária
lançando-se para vereador e/ou apoiando candidaturas, direta ou indiretamente
Bem como outros eventos de ordem particular/privada. A intenção,
nestes casos, é pura e simplesmente a promoção e o benefício pessoal12.

5.3 Limites da burocracia: o que fazer para abrir uma rádio comunitária?
Podem pleitear uma rádio comunitária somente as fundações e as associações comunitárias sem fins lucrativos, legalmente constituídas e registradas, com sede
na comunidade em que pretendem prestar o serviço, cujos dirigentes sejam brasileiros
natos ou naturalizados há mais de dez anos, maiores de 18 anos, residentes e
domiciliados na comunidade. A fundação/associação candidata a prestar serviço de
RÁDIO COMUNITÁRIA, não deverá, de forma alguma, ter ligação de qualquer tipo e
natureza com outras instituições. Nos respectivos estatutos deve constar o objetivo
de “executar o Serviço de Radiodifusão Comunitária”. Para dar encaminhamento à
legalização da rádio é necessário:

• Retirar da página na Internet do Ministério das Comunicações o "formulário de
demonstração de interesse em instalar rádio comunitária". O formulário deve
ser preenchido e enviado por via postal ou pela Internet;

12 Para saber mais, ver a pesquisa Coronelismo eletrônico de novo tipo (1999-2004) de Venício A. de Lima e Cristiano Aguiar Lopes, disponível em: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/download/
Coronelismo_eletronico_de_novo_tipo.pdf.

Rádio Livre e outras Idéias

• Aguardar um comunicado com o número do processo. Então, deve-se esperar
a publicação no Diário Oficial da União ou verificar na página do Ministério
das Comunicações (MC) o "Aviso de Habilitação". Este aviso indica as localidades
e as coordenadas geográficas onde há disponibilidade de canal para a
execução do serviço;

• Apresentar a documentação para a seleção da autorização no prazo máximo
de 45 dias:

a) cópia de comprovante de inscrição no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas
do Ministério da Fazenda – CNPJ/MF;
b) Estatuto Social, devidamente registrado;
c) Ata de constituição da entidade e Ata de eleição da diretoria em exercício,
devidamente registradas;
d) relação contendo o nome de todos os associados pessoas naturais, com
o número do CPF, número do documento de identidade e órgão expedidor
e endereço de residência ou domicílio, bem como de todos os associados
pessoas jurídicas, com o número do CNPJ, número de registro no órgão
competente e endereço da sede;
e) prova de que seus diretores são brasileiros natos ou naturalizados há mais
de dez anos e maiores de dezoito anos ou emancipados;
f) manifestação de apoio à iniciativa, formulada por pessoas jurídicas legalmente
constituídas e sediadas na área pretendida para a execução do
serviço ou na área urbana da localidade, conforme o caso, ou firmada por
pessoas naturais que tenham residência ou domicílio nessa área;
g) declaração, assinada pelo representante legal, especificando o endereço
completo da sede da entidade;
h) declaração, assinada pelo representante legal, de que todos os seus dirigentes
residem na área da comunidade a ser atendida pela estação ou na
área urbana da localidade, conforme o caso;
i) declaração, assinada por todos os diretores, comprometendo-se ao fiel
cumprimento das normas estabelecidas para o serviço;
j) declaração, assinada pelo representante legal, de que a entidade não é
executante de qualquer modalidade de serviço de radiodifusão, inclusive
comunitária, ou de qualquer serviço de distribuição de sinais de televisão
mediante assinatura, bem como de que a entidade não tem como integrante
de seu quadro diretivo ou de associados, pessoas que, nessas condições,
participem de outra entidade detentora de outorga para execução de
qualquer dos serviços mencionados;
k) declaração, assinada pelo representante legal, constando a denominação
de fantasia da emissora, se houver;
l) declaração, assinada pelo representante legal, de que o local pretendido
para a instalação do sistema irradiante possibilita o atendimento do disposto
no subitem 18.2.7.1 ou 18.2.7.1.1, disposto na Norma Complementar
n° 1/2004;
m) declaração, assinada por profissional habilitado ou pelo representante legal
da entidade, confirmando as coordenadas geográficas, na padronização
GPS-SAD69 ou WGS84, e o endereço proposto para instalação do
sistema irradiante;
n) declaração, assinada pelo representante legal, de que a entidade apresentará
Projeto Técnico, de acordo com as disposições da Norma Complementar
n° 01/2004, e com os dados indicados em seu requerimento, caso
seja selecionada;
o) comprovante de recolhimento da taxa relativa às despesas de cadastramento.
p) requerimento de autorização (Modelo A-2), no original ou cópia autenticada,
devidamente assinado pelo representante legal da entidade;

• Após a fase de habilitação, inicia-se a seleção. As rádios selecionadas devem,
então, apresentar o Projeto Técnico em prazo máximo de 30 dias. Este projeto
deve conter o Formulário Padronizado Modelo A-3, mais uma declaração
(uma espécie de declaração de obediência às normas da ANATEL), planta de
arruamento, diagrama de irradiação horizontal da antena transmissora, duas
declarações de um profissional habilitado para a tarefa, um parecer conclusivo
com o aval deste profissional e, por fim, Anotação de Responsabilidade
Técnica (ART) referente à instalação proposta13;

• Aguardar a emissão de uma licença (OUTORGA), que passa por um parecer
da Consultoria Jurídica do MC encaminhado ao Ministério das Comunicações,
que, por sua vez, emite uma Portaria autorizando a execução do Serviço de
Radiodifusão Comunitária;

13 Os formulários e modelos da documentação estão disponíveis em http://www.mc.gov.br/radiocomunitaria/formularios.

Rádio Livre e outras Idéias

• Após a emissão da Portaria pelo MC, a autorização só terá validade após também
passar pela Presidência da República e ser autorizada pelo Congresso
Nacional (Câmara e Senado) através de um Decreto Legislativo. Se o ato de
autorização permanecer mais de 90 (noventa) dias sem que a Portaria tenha
sido aprovada ou rejeitada, o Ministério das Comunicações poderá expedir
uma autorização provisória para que a emissora comece a funcionar (finalmente!).
Mas se o Congresso Nacional não aprovar a Portaria, a autorização
perde a validade e a rádio deve parar as transmissões;
• A ANATEL indica o canal (freqüência) apropriado, respeitando um limite de
4 km entre as emissoras para evitar interferências, pois é indicado um único
canal para cada município;
• A outorga valerá por dez anos, podendo ser prorrogada apenas se a entidade
executar o serviço de forma apropriada14.
5.4 A lei, ora a lei...
A Lei 9612/98 tem vários problemas e costuma ser um empecilho para a conquista
de uma rádio comunitária. Tudo começa pelo padrão da outorga, anterior à própria
lei, e que passa pelo Congresso Nacional. Na média, um em cada três congressistas
(deputados e senadores) é dono ou testa de ferro de emissora de rádio e/ou
14 Para saber mais, ver o manual Como instalar uma rádio comunitária em http://www.mc.gov.br/radio-comunitaria/manual e o texto Rádio Comunitária em http://www.mc.gov.br/radiodifusao/perguntasfrequentes/radio-comunitaria, ambos na página do Ministério das Comunicações.
TV. É por isso que, a cada duas rádios comunitárias outorgadas, uma sai através da
chamada “cota parlamentar”. Mas, na mídia comercial, a situação é ainda pior. Todas
as rádios e TVs comerciais conseguem suas licenças com a intermediação de algum
político. Portanto, e apesar das conquistas já alcançadas, as regras que regulam
as telecomunicações no Brasil ainda apresentam muitos problemas e precisam de
mudanças. Observando a Lei 9612/98, podemos constatar que:

• A Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) exige que as rádios trabalhem
com equipamento homologado. Ou seja, somente os transmissores,
moduladores, compressores e antenas com a plaquinha de metal com o logotipo
da ANATEL podem ser usados. E todos devem operar na mesma freqüência
em um mesmo município. Segundo a lei, o transmissor deve ter até
25 W (potência), antena de até 30 metros e alcance de um quilômetro, com
outros três quilômetros em volta sem nenhuma interferência de outra rádio.
O problema é que estes equipamentos, com estas especificações, emitem
os sinais radioelétricos (“as ondas do rádio”) numa distância de, no mínimo,
10 quilômetros de raio. Assim, mesmo trabalhando com material apropriado,
uma rádio, ainda que homologada pela ANATEL, pode ser multada o tempo
todo ou interferir em outra comunitária a cinco quilômetros de distância;

• Isso parte de um conceito mal pensado de comunidade. É difícil entender por
que foi definido que uma comunidade existe no máximo em 4 km de entorno.
Nas áreas rurais, por exemplo, uma comunidade pode ter mais de 40 km na
sua volta. Por isso, uma norma mais apropriada para as rádios concederia
uma licença para operação dentro do município para onde transmitem ou,
pelo menos, se adequaria à realidade das comunidades onde se inserem;

• Pela lei, não é permitido inserir propaganda comercial, a não ser sob a forma
de apoio cultural, de estabelecimentos localizados na área de cobertura da
rádio comunitária, o que inviabiliza bastante a sustentabilidade destas emissoras.
Com financiamento público complementando suas fontes, somado ao
apoio da economia local de pequena escala e transmitindo para todo o município,
é possível que não apenas se sustentem, mas também produzam renda
distribuída, mesmo que modesta, para as comunidades onde estão inseridas.
Tal prática, somada à possibilidade de aproximação e organização destas comunidades
em torno da rádio, pode propiciar condições de vida melhores,
principalmente nos âmbitos econômico, cultural e social;

• Também “é vedada a formação de redes na exploração do Serviço de Radiodifusão
Comunitária, excetuadas as situações de guerra, calamidade pública
e epidemias, bem como as transmissões obrigatórias dos Poderes Executivo,
Judiciário e Legislativo, definidas em leis.” Desse modo, a lei isola as emissoras
comunitárias, impossibilitando que as pequenas comunidades limitadas a
um quilômetro de raio possam se articular e se comunicar como uma comu-

Rádio Livre e outras Idéias

nidade real, em torno de suas necessidades, interesses e reivindicações comuns.
Uma inexplicável discriminação às comunitárias, já que as emissoras
comerciais têm total liberdade para trabalhar em rede;

• Porém, a lei apresenta uma parte interessante na definição dos parâmetros
que caracterizam uma rádio comunitária. Em primeiro lugar, qualquer morador
da comunidade pode se associar na entidade que mantém a rádio. A rádio
comunitária, na base da lei, não tem e nem pode ter dono. É obrigatória a
veiculação de uma programação voltada para a cultura regional, apoiando
manifestações culturais, artísticas e folclóricas, tradições e hábitos sociais,
serviços e atividades educacionais. Além do mais, deve funcionar com uma
diretoria eleita, manter assembléias regulares e apoiar-se em um Conselho
Comunitário, que deve fiscalizar a emissora. No Conselho, devem estar no mínimo
cinco entidades, com pessoa jurídica, que tenham suas sedes na mesma
comunidade da rádio. Mas, mesmo frente a estes aspectos positivos da lei, há
problemas. Como já vimos, muitas legalizadas (com outorga) são vítimas do
coronelismo eletrônico e da apropriação indevida deste tipo de veículo, sem
que haja nenhuma represália a estas práticas – a lei não é cumprida quando
deveria ser. Outro problema diz respeito às dificuldades para constituir a pessoa
jurídica, conforme manda a lei. Com o CNPJ das associações de comunicação
comunitária, mantém-se uma estrutura legal mínima. Porém, é preciso
reconhecer que isto, ao mesmo tempo, é um freio para os mais assustados e
um convite à criminalização das associações. Existindo um titular da pessoa
jurídica, o Estado tem a quem processar. É o famoso bode expiatório, que fica
exposto a multas e outras formas de repressão. Além disso, se por um lado a
base jurídico-legal permite a briga na lei, gerando jurisprudência, a excessiva
preocupação com a normatização do setor pode paralisá-lo. Ainda mais no
Brasil, onde o patrimônio público não-estatal costuma ser terra de ninguém.

5.5 A integração das mídias populares
Cada rádio comunitária tem de lutar para sobreviver, mas tem uma compensação.
Quanto menor o município ou mais pobre é a região de onde se transmite,
maior é a audiência das rádios comunitárias. Mas esta popularidade fica abafada
pelo conjunto das mídias comerciais. Isto porque, o monopólio das comunicações
conta com vários meios integrados, transmitindo de forma complementar.
Um cidadão acorda e liga a TV, vai para o trabalho escutando rádio ou lendo o
jornal, volta para sua casa e liga de novo a televisão. Se ele vai acessar a internet
e quer se informar, abre primeiro um grande portal, que também é de propriedade
de um grande grupo econômico de mídia. Este cerco vicioso é uma espécie de
ditadura que tem de ser combatida.
A inserção das rádios comunitárias precisa ser complementada por outras mídias.
Uma solução barata é que cada emissora tenha sua própria página de internet,
nem que seja apenas um blog gratuito. E, através de servidores também gratuitos,
transmita de forma simultânea sua programação por radiofreqüência (através da antena)
e pela rede de computadores (rádio web). Dá para pôr a rádio na Internet com
50 ouvintes simultâneos e sem nenhum custo. Se tiver bom trânsito no local, consegue
se coordenar com as publicações impressas do entorno da rádio, ou mesmo
participar de uma mídia impressa semanal ou mensal. Uma solução simples para
difundir a rádio e os pontos de vista do povo, é retomar os jornais murais, as pinturas em muros (muralismo), a colagem periódica de cartazes informativos e todas as formas de comunicação de baixo custo e fácil acesso. Nenhuma mídia ou tecnologia
exclui a outra. Assim, um panfleto rodado em mimeógrafo pode ser acompanhado
de uma cadeia de mensagens de SMS através de celulares pré-pagos. Ou um jornal
impresso em preto e branco com apenas uma página frente e verso pode ter o complemento de um portal de informações.
Com criatividade e perseverança, é possível romper com o cerco informativo da
grande mídia comercial. Pouco se sabe sobre o próprio bairro ou questões fundamentais
do nosso município. Enquanto isso, somos “contaminados” com uma boa

Rádio Livre e outras Idéias

dose de lixo cultural. As rádios comunitárias são a ponta da lança de uma luta pela
própria identidade, pelo direito a falar pelas próprias vozes do povo. Nas áreas anexas aos estúdios podem ser montadas bibliotecas ou clubes do livro. Os discos em vinil e as fitas cassetes podem ser doados para os acervos das emissoras. Videotecas com baixíssimo custo podem se tornar o embrião de cineclubes nestes espaços de convivência e alegria gerados pelas emissoras da comunidade. Mas, para cada boa idéia,é preciso pelo menos uma pessoa responsável pela sua execução. Alguém disposto,
honesto, sincero e livre da influência dos aproveitadores e oportunistas de plantão.

5.6 A gestão: o maior dos desafios
Movimento popular implica necessariamente em disputar os direitos, muitas vezes
acima dos limites da lei. Mas é importante formalizar tal prática em uma
luta organizada no dia-a-dia. Pois, em geral, somos invisíveis para a opinião pública.
A capacidade de mobilização autônoma é uma necessidade na disputa por uma visibilidade que realmente chame a atenção para os problemas da comunidade. Bem
ou mal, temos mídia própria, porém desorganizada e fragmentada. Construir uma
base participante, formada por comunicadores e ouvintes em torno de uma rádio
comunitária, é um bom instrumento para aglutinar pessoas e alavancar a prática de
um autêntico poder popular. É um exercício conjunto do poder, seja no papel de mero
ouvinte, seja no envolvimento direto com os processos de produção, planejamento e
gestão da comunicação.
A manifestação coletiva implica em negociação coletiva. A luta popular na forma
orgânica de um movimento de massas (ainda que desorganizado), necessariamente
tem de ser materializada em uma forma direta de negociar e avançar em conquistas e
direitos. É preciso criar canais de participação abertos, que estimulem também a fiscalização constante do veículo por parte de toda a comunidade. A intermediação avulsa de políticos profissionais é um problema permanente. Estes representantes individuais costumam ter mais visibilidade e gravitação do que centenas de emissoras que muitas vezes nem se reconhecem como “parceiras”. A construção da identidade coletiva passa pela luta por liberdade de antena e uma definição de objetivos a ser alcançados por todos os meios de luta popular realmente interessados em transformar a realidade.
De todos os setores que defendem a democracia na comunicação, o movimento
de rádios comunitárias tem um dos perfis mais populares. Não poderia ser diferente.
O rádio, como um todo, é o meio de comunicação mais difundido e com o maior
número de adeptos, em uma ligação até sentimental. É um poder que emana da mídia
falada, da oralidade. Mas é preciso trabalhar duro, praticar a desobediência civil,
romper lacres, combater a repressão e seguir no ar.
Falta muita coisa, embora a caminhada já tenha começado. Organizando e conectando
10% das rádios outorgadas já serão mais de 300 emissoras, formando
uma enorme rede. E com isso, estará sendo dada uma grande contribuição para
a luta popular no Brasil. A tarefa é tão urgente quanto o combate ao monopólio e à
distribuição e manutenção de concessões que reforçam privilégios, orientadas quase
que exclusivamente para o lucro, priorizando o interesse privado em detrimento do
público. É preciso lutar por financiamento público e uma nova regulamentação, mais
adequados à importância da comunicação comunitária no processo de democratização
da sociedade.
A comunicação é um forte combustível da ideologia. Quem somos e o que pensamos
ser está atravessado pela mídia comercial e monopolista. Assim, refletir sobre
como é formado este conjunto de idéias e tentar compreender aquilo que pensamos
sobre nós mesmos é outro grande desafio. A linguagem, aquilo que pensamos, ouvimos
e falamos, carrega os conceitos (e preconceitos). Sem linguagem, não há pos-

Rádio Livre e outras Idéias

sibilidade de nos comunicarmos entre iguais. Com a linguagem implantada dentro de
nossas mentes, terminamos por pensar com idéias que deveríamos combater. Por
isso, a busca por linguagens que expressem o poder popular é uma das missões do
movimento de radiodifusão comunitária organizado em torno da ABRAÇO e um dos
grandes objetivos desta cartilha15.

6 COMUNICAÇÃO:
AFINAL, PARA QUE SERVE ISSO?
A comunicação e a educação estão intimamente ligadas. A comunicação é a
forma de expressar o que se quer dizer, com um determinado conhecimento,
para alguém que quer compreender a mensagem a ser dita. Já a educação,
por meio de um processo de formação, torna o indivíduo apto a organizar as idéias e,
a partir daí, comunicar-se de forma eficiente. Nós só vamos nos comunicar bem se
organizarmos nossas idéias de forma clara e direta, com um aprendizado que nos dê
conhecimento sobre o que queremos expressar, utilizando uma linguagem adequada.
No caso específico da radiodifusão comunitária, o papel do rádio e a defesa do
direito a transmissão por radiofreqüência têm uma importância central para o avanço
das identidades populares. Este veículo sempre teve o potencial para cumprir este
papel, sendo por diversas vezes instrumentalizado por governos. E mesmo sob estes
controles, o que se verificou foi a manifestação da cultura popular, ainda que emaranhada com o chamado populismo.
São protagonistas da comunicação social aqueles que exercem o direito de
se comunicar. Partindo da lógica da relação emissor-receptor, observamos que os
comunicadores comunitários ocupam o papel de encurtar a distância no processo
comunicacional. Esta capacidade atua em todas as esferas da vida. A rádio e a produção integrada de audiovisual de baixo custo potencializam os empreendimentos
econômicos da região sob cobertura da emissora comunitária. Muitas vezes, uma
iniciativa de economia dentro da mais plena informalidade, mas com muitos freqüentadores de uma região metropolitana periférica, ganha legitimação quando anunciada em uma rádio comunitária.

15 Para aprofundar o conceito e as propostas quanto ao sistema público não-estatal de comunicação social, bem como os conceitos relacionados discutidos nesta cartilha, ver também a página da Ciranda international de l’information independente em http://www.ciranda.net/spip/article1211.html?lang=fr e
os textos Rádio comunitária, educomunicação e desenvolvimento, de Cicilia Peruzzo (p. 69), Rádios comunitárias: exercício da cidadania na estruturação dos movimentos sociais, de Márcia Vidal Nunes (p. 95) e Para reinterpretar a comunicação comunitária, de Raquel Paiva (p. 133), todos no livro O Retorno da comunidade: (os novos caminhos do social).

6.1 A comunicação em rádio
• Transmissão e recepção instantâneas e simultâneas (quando eu estou falando
numa rádio alguém pode me escutar na sua casa);
• A comunicação é de pouca duração (porque a mensagem não pode ser
guardada como num jornal impresso);
• É um sistema de custo relativamente baixo, tanto para o emissor quanto para
o receptor: a instalação de uma emissora de rádio é muito mais barata que
a de uma emissora de televisão (e um aparelho de rádio também custa bem
menos que um televisor);
• A recepção pode ser feita independente das condições ambientais existentes
(se o receptor estiver dirigindo, ou trabalhando, ou lavando roupa, pode
ouvir a rádio ao mesmo tempo);
• Possibilita boa interação com os receptores, seja por telefone, torpedos,
mensagens instantâneas ou correio eletrônico. No caso das rádios comunitárias,
pode ser uma excelente forma de aproximação com a audiência;
• A comunicação entre o emissor e o receptor acontece apenas por meio do
som, sem qualquer visualização (a rádio só trabalha com palavras, músicas,
ruídos, silêncios, sons diversos - não há um sistema de sinais para que o
receptor veja a mensagem como na TV e demais veículos).

Planejamento e Produção

7 PLANEJAMENTO E PRODUÇÃO DE CONTEÚDOS PARA RÁDIO

Para que a rádio tenha êxito junto à comunidade e prospere, é preciso um mínimo
de planejamento para o funcionamento da emissora, de modo a criar uma
identidade que ajudará a criar um vínculo com os ouvintes. Isso passa por
pensar a infra-estrutura, a inserção na comunidade, o universo cultural do local, a
auto-sustentação, a política de comunicação e a instrumentalização técnica das equipes envolvidas. Boa parte destes elementos já foi discutida ao longo desta cartilha.
Resta aprofundar um pouco a discussão sobre a instrumentalização técnica para as
equipes, alguns elementos que ainda podem ajudar quanto ao planejamento da rádio
e a produção de conteúdos/mensagens.
A rádio emite PROGRAMAS, espaços que, em geral, têm um título (nome), horário
de emissão e duração fixas, dedicados a temas concretos. Normalmente, a
emissora comercial possui um departamento específico que cuida de toda a programação.
Isso inclui todas as inserções comerciais, jornalísticas, musicais, gravadas
ou ao vivo. Este departamento cuida do aproveitamento do espaço e o tempo utilizado
para divulgação das mensagens na rádio. Mas, a programação das comunitárias
segue uma lógica diferente em vários aspectos. O caráter associativo, de controle
aberto e coletivo, propicia maior liberdade, independência e autonomia na criação do
programa. Mas infelizmente tal possibilidade pode ser mal explorada, especialmente
quando se comete o erro de reproduzir a lógica das emissoras comerciais.
Para romper com a lógica convencional, não podemos esquecer, em primeiro
lugar, que a comunitária se trata de um serviço de utilidade pública e não um negócio,como no caso da comercial. Isso implica em compromisso tanto com a democracia
interna na associação como no posicionamento voltado para o interesse da comunidade
e da sua organização. Também significa uma programação de resgate à denúncia,
o microfone aberto todo o tempo, o estímulo a crítica e a paixão pela polêmica.
Não significa que não podemos utilizar os mesmos enfoques e recursos profissionais
a que estamos habituados a ouvir nas comerciais. Mas sempre levando em conta os
princípios que devem diferenciar as comunitárias, principalmente no que diz respeito
ao conteúdo. Também não significa que os programas tenham que ter um caráter
estritamente sociológico, político ou econômico, deixando de lado outras manifestações culturais. É fundamental haver espaço para o lazer e a fantasia para trazer maior atratividade às comunitárias. Isso faz parte do universo de interesses das pessoas,na busca de felicidade. As possíveis transformações da sociedade, embora seja uma coisa muito séria, vai muito além da aparência carrancuda comum a muitos partidos e movimentos de esquerda que têm este objetivo. Com criatividade, alegria, boa vontade e honestidade, pode-se construir uma grande mobilização em torno da rádio.
É preciso ficar muito atento a algumas práticas suspeitas comuns nas rádios
comerciais, que são drasticamente nocivas à proposta das rádios comunitárias.
Emissoras “chapa branca” (bajuladoras de governos e autoridades em troca de privilégios)ou “jabazeiras” (jabá são as matérias, opiniões e comentários pagos) são
um desserviço para a luta pela democracia na comunicação. É importante lembrar
que só tem medo da verdade quem tem o rabo preso ou está sujo na praça. A comunicação
popular aqui proposta não pode estar a serviço de nenhum segmento social
ou corrente de pensamento. Está a serviço do povo, com todos os seus defeitos e
virtudes, e deve aprender a lidar com isso. Não se trata apenas de um movimento
de mídia, e menos ainda de mídia de alguém especificamente. Talvez por isso, caracteriza-se por ter uma das bases mais perseguidas e criminalizadas da democracia
brasileira. É o exercício diário da desobediência civil, buscando aliados nos setores
mais humildes da sociedade. Buscando transformar o jornalismo e a cultura popular
em ferramentas na luta pelo direito a uma comunicação social para todos.
Ao planejar a rádio comunitária, lembre-se que a censura interna tem de ser superada
pelo debate e a polêmica para o estabelecimento da política editorial, dos objetivos
e da formatação dos programas e do próprio veículo. Assim como da sustentação financeira,que deve buscar a autonomia perante quaisquer poderes. Sejam locais ou não,
privados ou públicos, de caráter pessoal ou mesmo grupos que tentem usar a estrutura
em benefício próprio ou para fins eleitoreiros, como no caso de algumas igrejas e parti-

Planejamento e Produção

dos políticos. Abra espaço para a publicidade (apoio cultural) dos pequenos negócios de sua comunidade, como o sapateiro, a doceira, a lanchonete, o açougue, o pipoqueiro, o vendedor de rua, cobrando pouco, é claro. Lembre-se que o objetivo é sustentar e melhorar a rádio e não “parasitar” a vizinhança. É preciso lutar por recursos em publicidade dos órgãos públicos do estado, município ou federal, em especial as de utilidade pública,como campanhas de vacinação, por exemplo. As pessoas da comunidade ou sócios da associação também podem pagar um valor simbólico por mês, como R$ 1,00, por exemplo. Sindicatos e outras associações que têm um pouco mais de recurso podem pagar um pouco mais. Promova campanhas e eventos, como festas e bingos. E não se esqueça de prestar contas do que recebe e gasta de maneira mais transparente possível,pois isso vai trazer credibilidade à rádio. Uma boa maneira de fazer isso é apresentar regularmente o extrato de alguma conta poupança, que pode ser aberta no nome da associação para esse fim. Este extrato pode ser fixado na rádio para quem quiser ver.
Acima de tudo, a busca pela verdade liberta. É preciso cuidado para não reproduzir
relações de dependência e subordinação. Assim como é preciso atenção para não reproduzir o modelo comercial e as artimanhas embutidas na moral destes meios. Não se deve cair na tentação de apenas “falar o que o povo quer ouvir”. É uma luta para que as vozes do povo organizado em suas comunidades possam ser ouvidas e compreendidas (16).

7.1 Funções em uma rádio

Embora as rádio comunitária, de um modo geral, sejam geridas com muito sacrifício e
dedicação de voluntários, nem tudo precisa ser feito sozinho, de modo isolado. Existem funções que podem ser divididas na realização de um programa. Há um aspecto muito positivo nisso, pois permite a integração e aproximação de participantes, estimulando o trabalho coletivo. Além disso, pode ser uma forma de facilitar a vida dos envolvidos e qualificar o programa, pois o trabalho fica dividido, tem mais cabeças para pensar e experiências para compartilhar. As funções mais comuns no exercício da radiodifusão são:

• Produtor: é aquele que prepara o programa para ser apresentado. Faz a pesquisa
e monta o texto, seleciona as músicas, marca as entrevistas e confirma
tudo para ver se na hora vai dar tudo certo;
Apresentador ou Locutor: é o que fala no microfone, lê o texto, improvisa, e
faz comentários;
• Repórter: é o que sai para coletar as informações, investigando através de
entrevistas e pesquisa;
• Técnico de som ou operador: é o responsável pela operação dos equipamentos no estúdio, descritos anteriormente.
16 Para saber mais, ver os livros Comunicação nos movimentos populares: a participação na construção da cidadania, de Cicilia Peruzzo (p. 142-158) e No ar... uma rádio comunitária de Denise Maria Cogo (p. 135-148).
Acontece que muitas vezes uma só pessoa faz tudo isso nas rádios comunitárias
devido à escassez de voluntários para ajudar. O mais importante é que cada etapa da
construção do programa seja planejada, para que a qualidade seja a melhor possível.
É importante pelo menos fazer a pesquisa e o roteiro, conforme vamos aprender
mais adiante. Caso for possível e viável financeiramente, seria muito interessante a
rádio contratar profissionais que pudessem dedicar-se às tarefas mais técnicas. Isso
propiciaria mais tempo e disposição para a comunidade protagonizar a comunicação,
através da criação e participação nos programas. Mas duas restrições devem ser observadas neste sentido. Estes profissionais devem ser preferencialmente contratados
entre os moradores da comunidade, privilegiando a geração de renda junto à área de
transmissão da rádio e estimulando a busca por formação adequada. Além disso,
esta proximidade é muito importante para garantir a familiarização com os assuntos
da comunidade. E este procedimento também prestigiaria as categorias da área de
comunicação, abrindo caminhos para um novo nicho de mercado para este tipo de
profissional, quase sempre recrutado pela grande indústria da comunicação. Uma
segunda restrição diz respeito ao papel destes profissionais na rádio comunitária,
que deve ser estritamente técnico, como um funcionário da emissora. É preciso ficar
sempre atento ao fato de que a gestão da rádio deve ser exercida coletivamente, de
modo a evitar um encastelamento tecnocrático por parte destes. Como morador da
região, este profissional pode participar das decisões, mas jamais pode reivindicar
privilégios em função do seu posto.

Exercício 1
Escolha duas funções dentre as apresentadas, às quais você gostaria de realizar na
sua rádio. Exponha sua resposta para a turma e justifique o porquê da escolha.

Planejamento e Produção

7.2 Programação e programas

A programação em si, é o conjunto ordenado de tudo o que é transmitido pela rádio,
ou seja, todos os programas veiculados. Não existe uma regra fixa sobre os tipos
de programas para rádio. Os diversos tipos podem confundir-se, dependendo da criatividade
empenhada na produção e até de ponto de vista. Mas, para fins didáticos, citamos
seis tipos mais comuns, conforme o que é veiculado nas rádios comunitárias:

a) Noticiários
São os programas de divulgação de notícias, mais vinculados à prática padrão
do jornalismo. Na rádio comunitária, é importante dar destaque às notícias da comunidade, do município e da região.

b) Formativos/educativos
Programas educativos devem ter uma preocupação com a cultura e a educação.
O objetivo é aumentar o conhecimento do ouvinte sobre o tema apresentado. Os programas musicais,por exemplo, podem informar sobre tipos de música, resgatando,
por exemplo, a cultura nativa. Outro exemplo é o dos programas femininos, dirigidos
a donas-de-casa, que podem falar sobre problemas de higiene na alimentação, saúde,
cuidados com crianças. O fundamental é ter um bom profissional da área para
falar: médicos, psicólogos, professores, nutricionistas e outros.

c) Lazer/diversão
Os programas só de música são o exemplo mais comum deste tipo de programa.
Mas é possível, por exemplo, produzir programas de humor, com um
locutor divertido e/ou um bom contador de piadas. Existem as radionovelas, por
exemplo, que fizeram muito sucesso no passado, mas hoje em dia são muito raras. Esta experiência já foi resgatada em algumas rádios comunitárias. Pode-se
também realizar programas com jogos, perguntas e testes de conhecimento, distribuindo
brindes que podem ser doados por estabelecimentos da região. Neste tipo de programa, o limite é a criatividade de quem o faz.

d) Esportivos
Embora possam ser identificados como programas de lazer/diversão, podese
enquadrá-los em uma categoria específica, tamanha é a audiência deste tipo
de programa. Só para se ter uma idéia, nas rádios AM comerciais, eles são a
parte mais popular da programação. O futebol não é o único esporte sobre as
quais as emissoras falam, mas é o principal. Na rádio comunitária, deve-se dar
destaque ao esporte local, cobrindo, por exemplo, os times de futebol popularmente
conhecidos como “da várzea” ou ainda competições estudantis em
escolas da região.

e) Cultura local/comunitários
São programas voltados especificamente à constante prestação de serviços
à comunidade, buscando a intimidade entre a rádio e os ouvintes. Os programas
de cultura local são destinados a divulgar os espetáculos, inaugurações, feiras,
rodeios, encontros, cursos, peças de teatro, filmes, entre outras atrações culturais
da comunidade. Promovem as agendas com a programação cultural da
região de abrangência, procurando sempre estimular e popularizar estes eventos
entre os ouvintes. Divulgar estas atividades, em especial as gratuitas, é uma
ótima maneira para promover o acesso e o compartilhamento destas culturas
para a população. Para este tipo de programa, pode ser bem interessante o uso
do já citado enlace (“link”), possibilitando a transmissão diretamente do local do
evento. Já os chamados programas comunitários servem como um canal para
atender aos anseios da comunidade, buscando soluções de problemas específicos
da região. Aqui entram também ofertas de trabalho, achados e perdidos,
bem como reclames de ouvintes. Este tipo de programa é muito importante para
a rádio comunitária. Suas informações podem ser reutilizadas em forma de notas
que podem entrar em qualquer outro programa. Mas é prudente não confundir
com os programas de caráter popularesco das rádios comerciais, onde comunicadores
carismáticos praticam assistencialismo de resultados, explorando casos
policiais e escândalos de modo sensacionalista e dramático.

Planejamento e Produção

sempre é interessante para o entendimento de uma rádio comunitária. E o contrário
também é verdadeiro.
Ao pensarmos a informação, temos que construí-la de uma forma clara para que seja
bem compreendida pelo nosso público. Destacamos a seguir alguns pontos a se observar.

LIDE: É um termo criado a partir da palavra inglesa “lead”, que significa “guia” ou
o que vem à frente”. De modo bem simplificado, é uma base inicial para construir
uma notícia. Um alicerce que fornece ao ouvinte as informações básicas sobre o
tema abordado, procurando prender a sua atenção. Embora um pouco contestado
pelas modernas teorias de jornalismo, ainda oferece uma solução bastante didática
e eficiente para a construção de notícias, agrupando as principais informações de
um acontecimento. Assim, a idéia do LIDE sugere que, para melhor compreensão da
notícia, é importante responder pelo menos às seguintes perguntas:
O QUE aconteceu? Descrever com precisão o fato;

Com QUEM aconteceu? Quem organiza, quem realizou, suas características;
QUANDO aconteceu? A data, hora ou turno em que aconteceu o fato – falar do antes
e do depois;
ONDE aconteceu? Falar do lugar onde o fato aconteceu, endereço ou localidade;
COMO aconteceu? Falar do jeito como aconteceu o fato noticiado;
POR QUE aconteceu? Falar das causas que provocaram o fato e, se possível, das
conseqüências.

Uma dica para ajudar a decidir se a informação que você tem pode ou não virar
notícia, é verificar, por exemplo, se ela encaixa em algum dos seguintes tópicos:
 Mais importante, assuntos relevantes para a comunidade;
 O mais caro ou barato, o que aumentou ou baixou de preço;
 Tragédias e problemas que assolam a comunidade;
 Fatos recentes, que acabaram de acontecer;
 Coisas incomuns, curiosidades ou causos;
 O que vai acontecer, novidades e serviços disponíveis;
 Os últimos ou mais à margem, projetos solidários que merecem ajuda;
 Os primeiros, maiores, que destacam-se por mérito e precisam de apoio.

Numa rádio comunitária, as notícias devem ser dadas conforme sua importância,
nessa ordem:
Comunidade;
Município/Região;
Estado;
País;
América Latina;
Mundo.

A estrutura da notícia:
 Priorizar os dados mais importantes para a informação a ser dada;
 Na medida do possível, tem que ter pelo menos os principais dados conforme
proposta do LIDE;
 Caso necessário e possível, um corpo formado por parágrafos onde acrescentamos
dados novos e recordamos alguns dos mais importantes;
 Um fechamento com os dados para que o ouvinte recorde o fato e/ou fique
com a perspectiva das conseqüências;
 É possível ainda adicionar algum comentário ou entrevista que possa dar
mais vibração, se for o caso, mesclando recursos de outros gêneros.
A linguagem da notícia:
 É dupla, porque além da gramática em si, tem a linguagem do sentido que se dá
a ela, que interfere na forma como o ouvinte vai recebê-la;
 Tem que ser de uso corrente e compreensível para todos que a ouvem (se for
usada uma palavra que seja difícil, tem que explicar o que significa);
 Especialmente para o rádio, usar palavras curtas, frases curtas e com estrutura
lógica. Tem que usar sinônimos, evitando ao máximo repetir palavras.

Planejamento e Produção

A duração das notícias
 Existe um padrão internacional, que sugere tempos, de modo a prender a
atenção do ouvinte. Mas não é uma regra geral, apenas uma sugestão visando
tornar o noticiário mais atraente;
 Sugere-se entre 15 segundos e 30 segundos para os flashes informativos;
 Sugere-se entre 30 segundos e 1 minuto e 30 segundos para as notícias que
só têm textos;
 No máximo 2 minutos para as reportagens, sempre cuidando para não tornar
o programa cansativo;
 Em média, 12 linhas de uma lauda compõem um minuto. Uma lauda é uma
folhinha com 12 linhas de 65 ou 72 caracteres (toques datilográficos), que
contém várias informações e critérios para orientar o locutor.

Há diferentes formas de narrar as notícias. Algumas formas adotadas são:
 Notícias que só têm texto: são as notícias que o locutor lê, de preferência
têm que ser curtas;
 Notícias com texto e sonora: são notícias que têm texto com trecho(s) de
entrevista(s) ou mesmo entrevista(s) completa(s), ou ainda enquetes, para ilustrar
a informação. Servem para dar mais credibilidade às informações, romper
com a monotonia, ampliar o tema e aumentar a participação popular;
 Boletim: notícia feita por um correspondente, um repórter que narra os fatos
noticiosos produzidos no local onde eles estão acontecendo. Este tipo
de notícia pode ter só texto ou texto e sonora. Podem ter uma abertura feita
no estúdio pelo apresentador do programa. Na maioria das vezes, estas
notícias são transmitidas ao vivo e, portanto, é necessário saber improvisar
e fazer um roteiro mínimo prévio com destaque para os itens mais importantes
do acontecimento.

É necessário também que se pense alguns CRITÉRIOS PARA A MONTAGEM do
noticiário. Os critérios podem variar entre:
 geográfico - local, regional, nacional e internacional;
 por assuntos - política, economia, social, cultura;
 por atualidade - a notícia mais nova é a primeira;
 pode-se fazer uma mistura entre esses critérios. Mas o importante mesmo é
pensar a organização do noticiário;
 as notícias de maior importância têm que estar entre as manchetes, que são
lidas com destaque. As manchetes vão no início do programa e dão uma idéia
pro ouvinte do que o programa vai falar. Se quisermos, podemos fazer um
resumo do que falamos no fim do programa. As manchetes e resumos

f) Reportagem e rádio-documentário
O mais simples é pensar a reportagem como uma notícia aprofundada. O rádiodocumentário
segue a mesma linha, e não é muito precisa a diferença entre estes
dois gêneros. Ambos buscam ir além da notícia comum. A idéia é fugir do superficial,
abordar os detalhes do fato, do assunto, que não podem ser esclarecidos em poucos
segundos ou linhas. A boa reportagem é fruto de um esforço de contatar as fontes,
colher o maior número de informações possíveis e verificar a veracidade delas. Por
isso, demora mais tempo para ser produzido. Em alguns casos, pode levar meses
até ser concluído. O livro Rádio: o veículo, a história e a técnica, de Luiz Artur Ferrareto,
sugere que o rádio-documentário “baseia-se em uma pesquisa de dados e de
arquivos sonoros, reconstituindo ou analisando um fato importante”. Inclui recursos
de sonoplastia, montagens e elaboração de um roteiro prévio para conduzir melhor
seu andamento. Em síntese, tratam-se de grandes matérias, com inserção de diversas
entrevistas gravadas e uma série de informações sobre determinado assunto.
O importante é o repórter trazer diversos aspectos da questão abordada, ponto e
contraponto, de modo a ampliar a reflexão do ouvinte.

g) Revista
Quando se fala em revista logo se pensa em revistas de papel. Certo? Sim e não.
No rádio também existe revista. Rádio revista é mais um tipo de programa que pode
ser produzido no rádio. Muitos dos programas que se escuta no rádio são do tipo
revista porque apresentam entrevistas, informações e diversão. Como numa revista
de papel, mas sem as fotos. Uma boa revista de rádio é um programa muito ágil e
gostoso de escutar porque sabe misturar informação e diversão na medida certa.
A rádio revista pode ter um tema só, tipo revista esportiva, ou ser uma revista de
atualidades e passar notícias gerais, sempre passando informações práticas para a
vida das pessoas. Podem ter a duração de 15, 30, 45 minutos, até uma ou duas horas,
dependendo da programação, da disponibilidade dos locutores/apresentadores,
da idéia do programa. As revistas podem ser diárias ou semanais.
É um programa com conteúdos variados, ligados por um apresentador, que vai
marcando o estilo. Estes conteúdos podem ser considerados como micro-espaços
do programa, em alguns casos fixos. A revista utiliza os diferentes gêneros jornalísticos:
a entrevista, a conversação, o debate, comentário etc, todos falando de temas
da atualidade, além de gêneros de entretenimento, como uma conversa de análise, a
radionovela, apresentações musicais e por aí afora.
A linguagem é de fácil compreensão. Para se ter uma boa audiência em temas
muito complexos, o apresentador pode criar formas de se colocar mais próximo do
público. Normalmente a revista é feita ao vivo e o roteiro não está fechado. Há possibilidade
da entrada de um repórter a qualquer momento, por exemplo.

Planejamento e Produção

IMPORTANTE! Uma rádio comunitária não precisa, nem deve fazer tudo como numa
rádio grande, comercial. A comunidade pode falar na sua língua e inventar coisas
novas, diferentes e criativas. O rádio é um meio de comunicação muito rico e, se for
encarado com prazer e alegria, é um brinquedo com diversas maneiras de se jogar.

7.4 Outros recursos radiofônicos

O rádio é o veículo de mais baixo custo para ser instalado. Conseguir colocar a
emissora no ar é o primeiro passo, mas os programas devem ter qualidade. Para
isso, além do cuidado com o conteúdo e com as informações veiculadas, o rádio
oferece diversos recursos sonoros que podem ser usados para enriquecer a produção.
Um programa que é totalmente falado, todo o tempo, é cansativo para o comunicador
e também para quem está ouvindo. Mesmo que a emissora não tenha muito dinheiro,
com criatividade há como inventar maneiras de construir uma identidade para cada
programa: dá para colocar músicas, vinhetas e outros elementos que o veículo possibilita,que deixam o programa mais interessante e prendem a atenção. Mas essas alternativas não devem ser usadas em excesso, ou corre-se o risco de que se torne chato.
Além disso, a tecnologia permite que os conteúdos sejam aperfeiçoados e que
outras pessoas participem do programa, mesmo que não possam estar presentes no
estúdio no momento da gravação ou veiculação.

VINHETA DE APRESENTAÇÃO: é a abertura do programa, com locução e música.
Ela deve ser simples e fácil de recordar, para que a audiência reconheça o
que está começando. Para a escolha da música da vinheta temos que pensar no
conteúdo que vai ser abordado e no público ouvinte, para que tenha relação com
a “cara” que queremos que o programa tenha;

VINHETAS DE PASSAGEM: pedaços de músicas para dar destaque ou separar
as notícias. Não são músicas inteiras nem trechos muito longos;

EFEITOS ESPECIAIS: são sons que podem sugerir imagens ou imitar realidades.
Por exemplo, a chuva, o ruído do tráfego, uma porta que se fecha, um telefone
tocando. O mais comum é que sejam sons pré-gravados, mas também é possível
fazer direto no estúdio com alguns materiais baratos e fáceis de encontrar.
São a essência da chamada sonoplastia;

SILÊNCIO: é a ausência de qualquer som, palavra ou música. Por mais que pareça
contraditório utilizar o silêncio como um recurso radiofônico, ele serve para
valorizar os sons precedentes ou posteriores. Um silêncio medido e intencional
pode provocar sensações, emoções e idéias. Também serve para dar um momento
de respiro ao comunicador e à audiência para que as informações sejam
organizadas e assimiladas. Só não pode ser muito demorado, pois os ouvintes
podem pensar que a emissora saiu do ar ou que o comunicador se perdeu na
condução do programa;

RECURSOS DE INTERAÇÃO: hoje em dia, há várias possibilidades de os ouvintes
participarem sem que precisem ir até o estúdio. Podem ser disponibilizados
para os ouvintes:
• um número de telefone celular para que sejam enviados torpedos (mensagens
de celular);

• um endereço para correio eletrônico (e-mail) do programa, da rádio ou do
apresentador;

• endereços eletrônicos para mensagens instantâneas, como o Windows Live
Messenger ou o Skype, ferramentas que possibilitam a troca em tempo real de
mensagens, por vezes com o uso de som e imagem.

Planejamento e Produção

Assim, enquanto estiver fazendo e veiculando o programa, o comunicador ou
seus ajudantes podem receber dicas e avisos, informações que podem ser repassadas
à comunidade. Também é possível levantar questionamentos e obter respostas que
demonstram o que os ouvintes pensam. Desta forma, o programa fica ainda mais interessante para quem está escutando e as pessoas se sentem mais próximas à rádio;

RECURSOS PARA ENTREVISTAS: nem sempre os entrevistados podem comparecer à emissora na hora do programa. Isso pode ser resolvido através de outros recursos. A entrevista pode acontecer pelo celular, que é configurado na opção viva-voz e assim todos escutam o que está sendo dito. Também pode ser concedida pelo Skype, um programa de computador que permite comunicação
de voz instantânea (e também de vídeo) gratuita e pela Internet.
ATENÇÃO! É preciso ter cuidado com o ruído, que são os sons indesejados que
podem ser escutados por quem acompanha a programação da rádio. Os ruídos dificultam
a transmissão e a recepção das mensagens. Alguns exemplos de ruído são
o barulho das folhas de papel sendo mexidas, o pigarro ou espirros do apresentador,
risadas e cochichos, além de interferências na transmissão do som.

7.5 Formas de realização do programa
A execução do programa pode ser feita basicamente de 2 formas:
AO VIVO: exige planejamento, coordenação e entrosamento da equipe. Isto é muito
importante, porque a chance de ocorrer erros é maior. Tem como vantagem a
instantaneidade, a participação no ar do ouvinte e a comunicação espontânea entre
os membros. O programa ao vivo pode usar arquivos gravados, como reportagens,
entrevistas, enquetes. Isto sem falar nas músicas e cortinas, essenciais em
qualquer programa de rádio. O programa ao vivo ocupa o estúdio de rádio e deixa
as portas abertas para a participação e visitas espontâneas e inesperadas.
PROGRAMA GRAVADO: pode ser feito como se fosse ao vivo ou seguir um roteiro
fechado. A vantagem é que se pode ouvir e analisar o que foi gravado, com a
possibilidade de corrigir os erros. A desvantagem é o tempo gasto na produção
e a ausência de interação com os ouvintes.

Exercício 3

Agora todos já escolheram alguma função e têm uma idéia de programa. Então:
a) Junte-se aos colegas que escolheram o mesmo tipo de programa que você;

b) Tente formar grupos de modo a compor uma equipe de rádio, a partir das
funções definidas: produção, locução, reportagem e operação. É importante
tentar compor grupos nos quais as funções fiquem bem divididas. Não adianta,
por exemplo, uma equipe com 3 operadores e um repórter. Seja flexível e
pense no coletivo. Caso haja necessidade, assuma mais de uma função;

c) Cada grupo deve debater de modo a construir um programa de rádio, realizando
o planejamento e a produção. Criem um novo título ou aproveitem a
idéia já criada por um dos membros da equipe. Definam opções de horários
de emissão e duração (mais de uma opção, para negociar na composição da
grade de programação), de acordo com a disponibilidade de cada um;

d) Incluam gêneros e outros recursos radiofônicos ao programa, definindo como
será todo o andamento dentro do tempo proposto. Definam a(s) forma(s) de
realização, tentando construir um roteiro completo do início ao fim;

e) Montem um esquema num papel, mas não se preocupem com a formalidade.
Façam do jeito que quiserem. Ao final, façam uma exposição para a turma,
debatendo cada programa apresentado.

7.6 Como captar as informações?

É importante lembrar que a informação é a essência da comunicação. Assim,
a informação divulgada deve ser cuidadosamente estudada e selecionada.
Deve atender e defender os interesses da maioria sem jamais abrir mão de critérios
morais básicos como justiça, igualdade, solidariedade e verdade. Sempre
de modo a colaborar no processo de esclarecimento, através da polêmica e da
reflexão crítica, na construção de um canal de manifestação do poder popular,
em especial no caso das rádios comunitárias. Conforme já visto, não deve, em
hipótese alguma, ceder em defesa ou promoção de interesses e benefício de grupos
ou indivíduos cujos objetivos estão acima ou divergem do interesse da coletividade
a quem a rádio comunitária deve representar. Por trás disto, está uma
característica fundamental do autêntico jornalismo combativo, que deve ser a
base da informação veiculada nestas emissoras: a CREDIBILIDADE. Se o ouvinte
não acreditar no que ouve ou suspeitar que está sendo enganado, provavelmente
vai trocar de estação. Talvez, em um cenário mais dramático, não volte mais a
ouvir o programa ou a rádio. Sempre se lembre disso ao veicular informações no
ar, pois o que está dito não tem volta. Depois de dito, só restará a retratação. E,
de qualquer modo, a credibilidade já poderá ter sido comprometida.

7.6.1 As fontes de informação

De uma forma simplista, pode-se dizer que fonte é tudo o que fornece informações
para a construção do programa. Mas nunca esqueça a CREDIBILIDADE no
momento de escolher as fontes. No caso de pessoas, procure sempre gravar os depoimentos

– assim não restará margem de dúvida sobre a autenticidade da fonte. Em

Planejamento e Produção

alguns casos de exceção, é possível preservar a fonte, garantindo o seu anonimato.
Mas, nestes casos, é fundamental que tal fonte seja de extrema confiança e, por alguma razão, seja conveniente que seu nome não apareça. Ainda assim, é importante
que o ouvinte tenha pelo menos uma noção da origem da informação, com alguma
pista do local ou da procedência desta fonte. Senão, a tal CREDIBILIDADE pode ficar
comprometida. O ideal é sempre identificar a fonte e evitar o anonimato. Em caso
de dúvida, cruze a opinião da fonte suspeita com outras fontes. Para a maioria das
pessoas que estão ouvindo um programa não é interessante conhecer uma opinião
se não se sabe quem a deu. É um dos aspectos fundamentais que vai diferenciar a
notícia da “fofoca”.

Além das pessoas, existem outras fontes úteis para a construção de uma matéria,
como, por exemplo:

 jornais, revistas, outras rádios, telejornais e agências de notícias: tome
cuidado para não reproduzir simplesmente o que é veiculado pela mídia
em geral. Muitas vezes, tais informações são carregadas com uma postura
tendenciosa, vinculada a interesses em desacordo com a proposta das
comunitárias;

 documentos e bibliotecas: enciclopédias renomadas e documentos emitidos
por instituição com credibilidade são ótimas fontes. No caso dos
livros, procure informar-se sobre os autores para compreender melhor
suas idéias e intenções;

 correspondentes: jornalistas que trabalham para a emissora ou o programa
que têm como tarefa recolher periodicamente os fatos da sua área
para enviar com a sua própria voz;

 Internet: a rede mundial de computadores oferece de tudo, o que presta e
aquilo que não é confiável. Dentro da mídia descentralizada, existem dezenas
de blogs, portais, páginas e fontes de informação populares muito
interessantes. Dentre estas, estão dezenas de páginas com arquivos de
conteúdos de áudio e que podem ser baixados gratuitamente. A pesquisa
permanente é a melhor maneira de se informar e buscar os bons conteúdos
da internet. Mas aqui, as fontes são sempre suspeitas. Priorize pesquisas
fatuais, com dados brutos e legalmente respaldados, tais como o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), Controladoria-Geral da União (CGU), etc. Além de portais renomados
de movimentos populares, jornalismo de investigação e instituições de ensino.
Eles darão mais credibilidade às informações veiculadas.

7.6.2 Mas de onde tirar as notícias da comunidade?

Dos próprios moradores, com suas denúncias e reclamações, por telefone ou no
boca-a-boca. Na comunidade, quase todas as pessoas se conhecem e sabem o que
está acontecendo com seus vizinhos e parentes. Se cada um que trabalha na rádio levar
uma notícia por dia, o locutor já vai ter alguma coisa para falar no programa. Outra
boa idéia é montar uma equipe de repórteres populares da comunidade. Isso rompe
com a situação de mero receptor do ouvinte. Tente recrutar um grupo de ouvintes que
esteja sempre ligado ao programa. Eles podem entrar ao vivo de qualquer telefone e
comentar sobre o assunto do programa. Estes repórteres populares também podem
fazer pesquisas e entrevistas junto à população, abordando o tema em discussão. O
único porém é que esta idéia precisa de uma chave híbrida para ser implementada.
Lembre-se de priorizar as notícias da comunidade, da cidade, da região, do estado,
do país e do continente, nessa ordem. Por último, em casos mais importantes
como guerras, as notícias do mundo, que podem ser tiradas dos jornais diários e em
grandes portais da Internet. A rádio comunitária também deve sempre tentar conseguir
assinaturas cortesia dos principais jornais da cidade.

Exercício 4

A partir do exercício 3, as equipes devem buscar informações para fazer pelo menos
uma notícia para inserir no programa. Esta notícia deve ser relativa a algum acontecimento da comunidade. Faça pesquisa, entreviste pessoas. Agora chegou o momento de ser um repórter popular.

7.7 Conselhos gerais sobre programas

Para que realmente o rádio seja importante para quem estiver ouvindo, é importante
lembrar-se de quatro palavrinhas básicas:

INTELIGIBILIDADE: a informação que vai ao ar tem que ser compreensível. Esta é a condição que permite que um programa, uma informação, seja direta. E isto se consegue pelos seguintes pontos:

O SOM TEM QUE SER LIMPO E DEPENDE DE UM BOM SISTEMA TÉCNICO:
equipamentos e aparatos de gravação e transmissão, com uma correta
modulação na mesa de controle, a combinação de sons deve ser agradável,
conectando as vozes que irão ao ar com os outros sons que podem
ser utilizados. Bom tratamento acústico do estúdio, utilização adequada
do microfone etc.;

IDÉIAS PRECISAS: para que a informação seja entendida, devem ser bem delimitadas e definidas as idéias que serão expostas. Faça um bom planejamento,prepare-se para o programa;

Planejamento e Produção

CONCEITOS SIMPLES: sempre se deve ter em mente que os ouvintes formam
um grupo diferente entre si. Por isso, os conceitos emitidos devem
ser simplificados ao máximo, com a intenção de serem compreendidos
por todos.

CORREÇÃO: toda a informação deve ser correta e, além disso, seu conteúdo
deve aproximar-se ao máximo dos fatos, através de uma investigação o mais
completa possível.

RELEVÂNCIA: uma informação é relevante quando o ouvinte, ao escutar o programa,
se sente parte integrante desse programa. É muito importante, portanto,
chamar a atenção para coisas que sejam relevantes a ele. Para que isso aconteça,
precisamos conhecer a audiência, quem está nos escutando. Devemos
conhecer estas pessoas, saber qual é o seu perfil. Quando se faz um programa,
precisamos sempre nos colocar no lugar do ouvinte, imaginar o que ele já sabe,
o que ele gostaria de falar e não pode, que pergunta ele gostaria de fazer, mas
nunca se sentiu encorajado a fazer. A rádio comunitária parte do senso comum
e politiza o cotidiano com os temas urgentes de uma coletividade.

LINGUAGEM: tem que ser rica e nativa. As concordâncias verbais são importantes,
mas não são fundamentais. A essência do rádio na comunidade é a franqueza
e a espontaneidade, falando ao microfone como conversamos com um vizinho.
 Deve-se cuidar para não usar expressões que sirvam de muletas, como
“né”, “assim, ó”, “pois é”, “hum”, ”sim”, etc.;
 Não usar expressões vazias e adjetivos em abundância. Procure usar substantivos
comuns de fácil entendimento e, se tiver que optar entre um substantivo
positivo e outro negativo, prefira sempre o positivo. Tenha cuidado
com os pronomes, pois eles podem causar confusões;
 É importante que o texto seja limpo e de fácil visualização. O indicado é
escrever em espaço duplo, em linhas curtas de 60 toques, sem separar as
palavras no final da linha e só escrever numa face do papel. As palavras
mais difíceis devem ser escritas com destaque - em maiúsculas, separadas
em sílabas ou sublinhadas, conforme veremos mais adiante;
 As frases devem ser escritas para serem faladas e não para serem lidas. Os
sinais de pontuação usados são ponto, para pausas longas, e vírgula, para
pausas curtas. Também pode-se usar a barra, ( “/” ) como alternativa para
pausas longas entre uma frase e outra;
 Ao usar siglas, explicar no mínimo uma vez o que ela significa;
 Não usar abreviaturas quando se escreve. Todas as palavras devem ser
bem pronunciadas;
 Os números devem ser escritos por extenso. Ao expor um número ou proporção,
é fundamental que seja dado um exemplo compreensível para uma
pessoa simples;
 É melhor que os verbos sejam usados no presente e no futuro ao invés
do passado;
 O rádio tem um potencial que não pode ser comparado aos demais veículos,
como o jornal, a tv e o cinema. Mas, para que isso se torne concreto,
é preciso utilizar ao máximo os recursos que ele oferece, como a música, a
palavra, a voz, os ruídos, os silêncios, etc.

7.8 Grade de Programação

Quanto mais tempo a rádio da comunidade conseguir ficar no ar, melhor. Mas, para
isso acontecer, além de estimular a participação, é preciso planificar os programas
a partir dos horários especificados, dividindo o espaço para os participantes. Assim,
é necessário a construção de uma grade de programação. Algumas rádios comunitárias
conseguem se manter no ar por bastante tempo. Mas, mesmo que sua rádio
não fique tanto tempo no ar, é muito importante organizar os horários com as pessoas
que fazem os programas. Esta grade deve ser fixada nos estúdios da rádio para que
todos possam ver e acompanhar os horários. A grade também deve ser colocada na
página de Internet da rádio, caso exista. Pode ainda ser divulgada na comunidade em
cartazes fixados em escolas e estabelecimentos ou em panfletos. Distribuir a grade é
uma boa propaganda para divulgar a emissora e atrair ouvintes e participantes.

Planejamento e Produção

Não há muito mistério para fazer a grade. É preciso reunir todos os programas,
com os seguintes dados: dia da semana e horário de apresentação; título (nome) do
programa; nome da equipe ou pessoa responsável; uma breve descrição do programa.
Depois, organize uma lista destes programas linearmente, de forma a simplificar
a visualização e compreensão. Uma maneira bem comum de fazer isso é dispor os
programas um embaixo do outro em uma lista simples. Outra é fazer uma tabela, com
os dias da semana nas colunas e horários nas linhas. Depois é só preencher os espaços
com as informações de cada programa. A tabela permita uma visualização geral
da grade, sendo melhor para a organização do todo. Mas, dependendo do tamanho
do papel, fica um pouco difícil colocar a descrição dos programas dentro de cada
quadradinho da tabela. As descrições são muito importantes para quem não conhece
a rádio. Permite às pessoas saber sobre o que trata cada programa, despertando a
curiosidade e atraindo ouvintes. Eis um breve exemplo:

DE SEGUNDA A SEXTA:
05:00 – Coração Nativo – Fulano de Tal e Beltrano da Silva
Música nativista, tradicional e contemporânea, abrindo espaço para novos talentos.
Cobertura de eventos nos rodeios e prestação de serviços à comunidade.

08:40 – Amor, meu grande amor – Antônio Amado e equipe
Programa voltado para as mulheres da comunidade – horóscopo, delegacia de
mulher, sexualidade, saúde, espiritualidade, família e beleza, aberto à participação
de ouvintes.

09:30 – Samba no Quintal – Nego da Ginga, Pé de Valsa e Totó
Convidados, entrevista e o melhor do samba de raiz. Resgata a memória musical
e abre espaço para novos talentos, transmitindo ao vivo de botecos e
pagodes da comunidade.

11:05 – A Hora do Rock – Emiliano Maluco e Chico Fedor
Rock, rap, punk, reggae, metal, ska, e outros. Espaço para novos talentos do
morro e do asfalto, buscando a integração destes segmentos.

13:30 – Cabeça Aberta – Régis Pimenta
Debates e entrevistas sobre comportamento, sexo, drogas, a política e a vida na
comunidade. Dicas culturais e música nativa de qualidade.
E assim por diante, até preencher todos os espaços ou contemplar todos os programas.
Não esqueça do sábado e do domingo, que são dias que as pessoas mais
ficam em casa. Podem ainda existir programas que

Informe Farroupilha
Todos os dias, das 09:00 às 18:00, no intervalo entre programas – Sérgio
Cabeção e Rui da ABRAÇO apresentam 10 minutos de noticiário, com muita
informações novinha sobre e para comunidade.
Na medida do possível, é muito importante manter os horários rigidamente. Os
ouvintes se habituam a ouvir um determinado programa em uma determinada hora,
criando uma relação de identificação com a programação. Então não dá para ficar mudando
a grade o tempo todo, nem ficar fazendo rotatividade de horários, porque isso,
na prática, não dá muito certo e acaba incomodando parte da audiência. A pessoa liga
o rádio e espera ouvir este ou aquele apresentador, ou um tipo de música do seu gosto.
Pode acabar criando uma imagem errada de que a rádio é uma bagunça ou que não
dá certo mesmo. E aí é ponto para as comerciais. O rádio costuma criar um vínculo
entre o ouvinte e o tempo. Ele é a informação, a diversão e a reflexão, mas também é
uma espécie de relógio para muita gente. Ficar atento à rigidez dos horários é muito
importante. E evitem faltar aos programas ou chegar muito atrasados. Faz parte do
comprometimento assumido com a comunidade. Procurem construir uma programação
o mais plural possível para a rádio. E não esqueçam que as rádios comunitárias
devem abrir espaço para todas as tendências, possibilitando a todos participar.

Exercício 5
Desenvolvam uma grade de programação com os programas desenvolvidos nos
exercícios anteriores. Não se esqueçam de incluir na grade as informações sugeridas
para que os ouvintes saibam o máximo possível sobre o que está rolando na rádio e
quem está por lá. Tentem ser flexíveis quanto aos horários, pensando sempre no que
é melhor para a comunidade.

8 LOCUÇÃO

A voz é a vibração sonora que os seres humanos produzem através de seus órgãos,
especialmente a laringe. O ar é combustível essencial para a nossa voz,
por isso a respiração adequada é uma das partes mais importantes da nossa
fala. Uma postura adequada também é essencial.
A voz é o instrumento de quem trabalha como comunicador de uma rádio. Ela
não pode ser usada de qualquer jeito. É a ferramenta essencial para o desempenho do
trabalho na rádio e, por isso, é necessário educá-la e cuidá-la. A locução radiofônica
deve ser feita de forma natural, como se fosse uma conversa com o ouvinte. Utilize o
mínimo necessário de leitura no microfone e fuja das palavras complicadas. É importante
salientar que a chamada “voz de rádio” está ultrapassada. Ter um vozeirão não
significa que a pessoa deve trabalhar no rádio.

Locução

A voz é muito mais do que palavras, muitas vezes o significado do que queremos
dizer está na maneira como dizemos isso. Algumas questões são importantes para
compreender como isso tudo funciona. Na seqüência, veremos alguns elementos determinantes na locução e de que modo podemos melhor aproveitá-los.

8.1 Entonação

O jeito que você fala também é importante. O sentido da frase vai depender de
como cada um expressa a informação: perguntando, exclamando, rindo, chorando,
xingando. O ritmo que o comunicador usa também colabora para manter o
ouvinte “ligado”. Se for monótono, lento, cansa o ouvinte e ele muda de estação. Se
for rápido demais, ele não entende nada e também se aborrece. O melhor é combinar
ritmos rápidos e lentos.
É claro que cada tipo de programa e cada locutor tem o seu próprio estilo. É
preciso cuidar pra que o público entenda o sentido do que foi dito e não pense que
alguém está lendo tudo “na latinha”.

Exercício 6

Ler a frase abaixo de várias formas: (1) interrogativa, (2) enunciativa, (3) exclamativa,(4) chorando, (5) rindo, (6) como num informativo.
TOMA ESTA FACA QUE DA ROÇA ELA VEM. ELA TEM PONTA? PONTA ELA TEM!

8.2 Ritmo

É a repetição mais ou menos cíclica das coisas (pode ser sons, gestos, rítmo de
vida, cardíaco etc). Na rádio, o ritmo tem um papel muito importante. É com ele
que vamos atrair a atenção do ouvinte ou perdê-la. Se combinamos ritmos rápidos e
lentos, se fizermos uma mistura ágil, o ouvinte vai estar atento. Mas se fazemos um
ritmo monótono podemos afastar o ouvinte.

Exercício 7

Ler uma notícia e comentar como foi a leitura. Utilize vários textos com sentidos
diferentes. Faça a interpretação de uma notícia de jornal.

8.3 Atitude e improvisos

A atitude depende do tipo de programa. Mas é importante manter a credibilidade e o
respeito pela audiência, e para isso é necessário controlar o meio em que estamos
trabalhando, evitar erros e saber exatamente sobre o que estamos falando. E para manter o respeito é necessário que se saiba a quem estamos nos dirigindo. Não é a mesma coisa fazer um programa de música para adolescentes e falar sobre música clássica. Além disso, o bom locutor conhece e respeita sua audiência. Fala a mesma língua de quem está escutando seu programa e procura manter isso. O melhor improviso é aquele que está previamente preparado. É importante saber o que vamos falar, conhecer o tema, preparar um esquema dos pontos que queremos abordar, ter segurança ao falar, ter um vocabulário rico e não ter vergonha. A tranqüilidade se adquire com a experiência. Até que não se tenha a experiência, deve-se escrever tudo o que é importante para falar ao vivo e de improviso.

Exercício 8

Repita o exercício anterior, fazendo uma parceria com algum colega. Durante a locução,procure acrescentar algum improviso.

8.4 Vocalização e dicção

A locução radiofônica tem que ser feita de forma natural, como se falássemos.
Deve-se evitar fazer apenas a leitura dos textos. Então, para uma boa locução é
preciso estar atento à vocalização e dicção, que é a articulação clara das palavras e
dos sons para que todos entendam o que está sendo transmitido. É a pronúncia de
todas as sílabas, de preferência dando a cada letra o seu som exato.

Locução


Exercício 9


Antes de começar, faça uma série de aquecimento:

a) Realize alongamentos de relaxamento cervical, costas, pescoço, ombros; ajudam
na postura;
b) Emita bocejos forçados, com sons. Isso ajuda na articulação;
c) Circule a língua ao redor da boca e como se estivesse varrendo o céu da boca;
d) Para projetar a voz, simule mastigações forçadas. Primeiro sem som e depois com som.

A seguir, passe aos exercícios:

1. Mover a língua e pronunciar sons problemáticos: palavras no plural, palavras
com “x”, com “z”, com “sc” e outras.

2. Fazer uma lista de palavras para pronunciar. Colocar uma caneta na boca para
exercitar. Fazer uma leitura de um texto articulando exageradamente as palavras.
Não tenha medo de nenhuma palavra, faça o exercício sem pressa e sem vergonha,
procurando ouvir o som da sua própria voz. Repita em voz alta as palavras a seguir:

IOGURTE
AÇÚCAR
TESTEMUNHA
ESTUPRO
ARTIFÍCIO
BÚSSOLA
SUAR
FARSANTE
ASSOVIAR
ESTOURO
CENOURA
TROUXA
TESOURA
BEBEDOURO
BISCOITO
AÇOUGUE
DOUTOR
GÍRIA
ADEREÇO
TÉCNICO
ACESSÓRIOS
PROBLEMAS
CARROCERIA
CAÇAMBA
BAGAÇO
CICLONE
ENTRETIDO
CINAMOMO
CISNE
FÓSFORO
ERUPÇÃO
SALSICHA
SOBRANCELHA
ENTRETENIMENTO
AUTORIDADE
FALSIFICADO
ASSÉDIO
ACESSÍVEL
CESARIANA
RESIDÊNCIA
DOMICÍLIO
SOBREMESA
TIREÓIDE
FUSÍVEL
DROGAS
VESÍCULA
HERBICIDA
ADVOGADO
AZUCRINANDO
EMBRIAGADO
ENXURRADA
SÊMEN
EXORCISTA
TÓXICO
INTOXICAÇÃO
TRÁFICO
ARQUITETURA
REPOLHO
PRECISAR
ANTEONTEM

3. A repetição de trava-línguas também ajuda bastante na dicção. Repita estes
exemplos abaixo em voz alta e pausadamente:
O RATO ROEU A ROUPA DO REI DE ROMA. // DENTRO DA JARRA TEM UMA ARANHA;
NEM A ARANHA ARRANHA A JARRA, NEM A JARRA ARRANHA A ARANHA. // O PEITO
DO NEGRO PEDRO É PRETO. // TRÊS TIGRES TRISTES NOS TRILHOS DO TREM.

8.5 Higiene vocal

É uma série de cuidados que devemos ter com a nossa voz para evitar o aparecimento
de alterações e doenças e para termos uma voz mais bonita e saudável.
 Evite fumo, álcool e drogas, pois atacam diretamente o nosso aparelho respiratório
e fonador, causando prejuízos a voz;
 Evite atos vocais inadequados, como pigarrear, tossir com força e competir
com os sons de fundo;
 Evite o contato com fumaças tóxicas e outros tipos de poluição;
 Em caso de ter alergias que atacam a voz, siga corretamente as orientações
médicas e evite situações de risco;
 Alimente-se adequadamente; prefira comidas leves, verduras e frutas antes
de realizar atividades que necessitem da voz. Evite alimentos e bebidas geladas.
E, especialmente, beba muita água;
 A produção da voz consome bastante energia, portanto, descanse bastante;
 Evite lugares com ar condicionado e mudanças bruscas de temperatura.

8.6 Dicas para uma boa locução

Locução das notícias:
 Os textos têm que ser bem lidos e comentados, evitando erros (para transmitir
credibilidade), mas o tom tem que ser o mais natural possível;
 A dicção tem que ser o mais correta e clara possível, pois é fundamental que
o ouvinte entenda o que você está falando;
 É recomendado ler as notícias previamente para entendê-las, sublinhar sempre
que houver dificuldade com alguma palavra e definir a pronúncia;
 O ritmo da leitura tem que ser variado para romper a monotonia. Não pode
ser muito rápido, por que o ouvinte pode não entender o que está sendo
dito. E também não deve ser muito lento, porque o ouvinte pode perder a
atenção;
 Não esqueça de ser natural, como se estivesse conversando;
 Evite redundância. Exemplos: subir para cima, adiar para depois, manter o
mesmo time, etc;
 Fuja de chavões, clichês e jogos de palavras desnecessários.
Outras dicas que não podemos esquecer:
 Não imite a horrível característica artificial que tanto ouvimos nas rádios em
geral, parecendo uma voz máscula, varonil;
 Nunca tape seu ouvido com uma mão, para ouvir-se melhor. Isso só piora;
 Nunca contraia a garganta para manter a respiração. Isto produz uma explosão
inicial ao falar e compromete a produção de uma voz suave e natural;

Outras dicas que não podemos esquecer:
 Não imite a horrível característica artificial que tanto ouvimos nas rádios em
geral, parecendo uma voz máscula, varonil;
 Nunca tape seu ouvido com uma mão, para ouvir-se melhor. Isso só piora;
 Nunca contraia a garganta para manter a respiração. Isto produz uma explosão
inicial ao falar e compromete a produção de uma voz suave e natural;